sábado, 12 de fevereiro de 2011

Investigar e Intervir


Ontem, meti um dia de férias, e passei o dia na faculdade num evento muito interessante, Investigar e Intervir.

Tratou-se de recuperar e divulgar determinadas teses de mestrado no âmbito das ciências sociais e humanas (Ciências da Educação) que costumam ficar na biblioteca, disponíveis apenas ao pessoal académico que se der ao trabalho de consultar, acabando, assim, por não ter o impacto que deveriam ter se fossem conhecidas do grande público.

Respondi ao desafio, que foi aceite e, ao longo do dia, foram apresentadas 30 teses. A minha, como devem saber, debruçou-se sobre a inclusão/reintegração social de ex-reclusos. Para isso, entrevistei reclusos reincidentes no Estabelecimento Prisional de Santa Cruz do Bispo.

Para quem achar que os presos estão bem presos e que se lixem... aqui vos deixo a parte final da minha apresentação, o pensamento de um grande homem, Paulo Freire (1921-1997).
Ao reconhecer que, precisamente porque somos humanos e nos tornamos seres capazes de observar, de comparar, de avaliar, de escolher, de decidir, de intervir, de romper, de optar, nos fizemos seres éticos e se abriu para nós a probabilidade de transgredir a ética, jamais eu poderia aceitar a transgressão como um direito, mas como uma possibilidade. Possibilidade contra a qual devemos lutar e não diante da qual cruzar os braços.

Mas, não é bem pela especificidade da minha tese que aqui venho, mas pela polémica geral do dia que se gerou à volta da questão do Ensino Superior e do processo de Bolonha.

Assim, perguntei lá e pergunto-vos: Será que o papel da universidade deve estar ao serviço do mundo do trabalho ou (simplesmente...) ao serviço do MUNDO?

Cada vez mais a educação superior está sujeita a pressões utilitárias, economicistas, que no entender da maioria presente no evento, acaba por atrapalhar a verdadeira missão da UNIVERSIDADE, com os seus prazos, avaliações, enfim, numa pressa em licenciar pessoas...

Veijios

3 comentários:

  1. Quanto a mim acho que o problema não reside em estar a Universidade ao serviço do Mundo do Trabalho ou do Mundo em Geral.
    A ciência que emana da formação universitária dum modo geral não equaciona a má utilização que pode ser dada aos novos conhecimentos.
    Não creio que Einstein tenha alguma vez dirigido o seu trabalho pensando numa arma atómica. Todavia o homem actual, atento a tudo que possa contribuir para aumentar o seu poder e satisfazer a sua desmedida ambição, encontra nos avanços científicos o seu alimento indispensável.
    Pouco tempo depois do genoma humano ter sido descodificado, houve em Paris um congresso internacional de empresários em que foi realçada a importância da descoberta como medida a usar na contratação de trabalhadores. A partir dela poder-se-ia saber se o candidato ao emprego tinha tendência para cleptómano, preguiçoso, alcoólico, e milhares de outras tendências ou doenças perniciosas para o custo da produção.

    Não vou cair no velho fado da crise de valores, mas lá que é necessário, para além da transmissão de conhecimento, que a escola, desde o início, procure formar o carácter dos alunos de modo a que venham a ser cidadãos de corpo inteiro: moderados, justos, humanos, compreensivos, calmos, interessados pela vida pública como forma de contribuição para a sociedade e não como forma de se autopromoverem.

    Torna-se imperioso fazer qualquer coisa.
    Para isso seria necessário que eu conseguisse que a minha neta deixasse de perder tempo a ver a “Casa dos Segredos” e ouvir as casquinadas irritantes da Júlia.
    Mas… como é proibido proibir, não se pode acabar com programas daquele tipo, que dão dinheiro, mas deformam a mentalidade dos nossos jovens, nem tão pouco eu caio na asneira de a proibir de vê-los.
    Estou farto de fazer papel de mau!

    Talvez vocês, da média geração, ainda vão a tempo de … sei lá… descobrir uma solução.
    Obrigado, Filó, pela oportunidade deste desabafo
    A.M.

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  2. Pois é, cada vez mais às pessoas deve ser dada a oportunidade de alcançar novos horizontes e, para isso, quanto mais conhecimentos, melhor. Não tenho a menor dúvida. E essa oportunidade deve estar disponível em qualquer idade, já que AGORA, ou seja, há poucas décadas atrás, os inteligentes chegaram à conclusão que a aprendizagem ocorre em todos os estádios da vida e, não apenas, até à adolescência, como afirmavam os primeiros. Erik Erikson foi o pioneiro com a sua Teoria do Desenvolvimento Psicossocial.
    Até há poucas décadas a maioria das profissões não necessitava de formação universitária, nem sequer dum curso tecnológico. O mestre ensinava o aprendiz... O chefe ensinava o empregado. Tratava-se de trabalho rotineiro que se aprendia apenas com a experiência. Até mesmo os professores não tinham que ir para a universidade, Eça é que é Eça! Os que iam eram os eleitos, médicos e advogados/juízes, engenheiros e arquitetos ou, então, aqueles mais curiosos que continuavam pela investigação. Eram meia dúzia, contavam-se pelos dedos... Agora, com a rápida transformação do mundo ao nível da comunicação e novas tecnologias, tudo muda, a cada instante, o que requer uma aprendizagem escolar de muito maior duração.
    Mas, o problema é que aqueles que trabalham na universidade, com esta cena da rapidez, e de formar pessoal, fica com muito pouco tempo para a investigação propriamente dita. A solução é pôr os alunos a investigar em conjunto, por isso, a moda agora não é ser licenciado, agora tem que se ser mestre mesmo. Daí, os mestrados quase serem obrigatórios. O pessoal já não se contenta em ter uma licenciatura. Entretanto, quem vai sustentando esta malta? Na grande maioria, os pais... ah ah ah Têm mais de 30 anos e ainda vivem na casa dos papás... e filhos? Nada, agora já só nascem netos... ah ah ah

    Veijios

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  3. Já agora deixo aqui uma história do Erikson que ele escreveu a meio duma das suas obras:

    Andava um homem a passear pelo seu bairro quando reparou no jardim de um vizinho que estava fantásticamente bem tratado. Como o vizinho lá andava no meio das plantas, ele cumprimentou-o e disse-lhe:

    - Bom dia, vizinho, o seu jardim está cada vez mais bonito com a ajuda de Deus...
    Ao que o vizinho respondeu:
    - Havia de o ver quando Ele tratava dele sozinho...

    Mais veijios

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