Já lá vão seguramente mais de 60 anos em que, perante um acontecimento invulgar, ouvia a minha mãe exclamar: - “A minha alma está parva”.
O meu característico cepticismo, que já me fez passar por algumas vergonhas, mas tem evitado a queda em muitas armadilhas, também neste caso, me impediu de considerar a minha mãe a autora desta exclamação. Nunca a questionei sobre isto, mas sempre acreditei que, dado ter sido uma inveterada leitora, bebera a frase em qualquer livro.
Dá a ideia que isto não vem a propósito de nada e é metido aqui à martelada. Mas não é assim.
O que havia eu de dizer depois de saber que quem ofereceu dólares para apanhar Kadafi vivo ou morto, está agora muito preocupado em apurar como é que ele foi morto depois de ser capturado, na ingénua tentativa de defender o estado de direito que devia vigorar, como lei fundamental, nos seus próprios países, exemplos da democracia, padrões do comportamento exemplar?
Claro, só me ocorreu dizer: “A minha alma está parva”
Depois, logo de seguida, leio comentários de pessoas que vão à missa, mas devem roer raivosamente a hóstia, em que tecem hossanas não só à sua morte mas também, e principalmente, ao modo bárbaro como foi liquidado. Sou, por esta razão, levado a crer que ou ainda vivem no tempo do “olho por olho dente por dente” do Moisés ou então simpatizam com os esbirros da Inquisição.
E, como não podia deixar de ser – a minha alma fica outra vez parva.
Entretanto, como a admiração e a surpresa podem surgir vindas “do céu ou do inferno”, leio num diário desta manhã que Jon Bon Jovi abriu um restaurante em Nova Jérsia, onde oferece comida rápida e de alta qualidade tendo os clientes a opção de não pagar, em dinheiro, podendo saldar a conta em horas de trabalho. Os clientes podem deixar o dinheiro que quiserem num envelope. E, o que é mais surpreendente: ementa de saladas elaboradas, comida caseira e nada de hambúrgueres de minhoca.
E mais uma vez fico com a alma completamente parva!
De caminho, fico preso na notícia da menina chinesa que foi atropelada duas vezes e ignorada pelas pessoas que passavam, sendo mais tarde arrumada para um canto do passeio por um almeida lá do sítio. Teve morte cerebral… nunca vai saber o que lhe aconteceu, mesmo que sobreviva.
E a minha alma fica esfrangalhada!
Ainda, preocupado com o facto de estar a usar uma frase que não é minha fiz uma incursão na net. Descubro nessa altura, e juro que não fiquei nada admirado, que existe um livro com o título “A minha alma está parva”. É relativamente recente e portanto a minha mãe não o podia ter lido embora admita com alguma dificuldade que o tenha lido agora se lá onde se encontra alguma editora resolver publicar este livro de Clara Pinto Correia.
E a minha alma só não ficou completamente estraçalhada porque descobri um bacano, gente optimista, que pôs Obélixa exclamar: - A minha alma está parva e o meu espírito taralhouco!
A.M.
Nota: O título do livro não está colocado entre aspas, o que até nem é de admirar…
Sempre disse que tens futuro!
ResponderEliminarFosga-se, tantas crónicas "assim-assim" nos jornais e revistas... Não haverá um tubarão dos media que te contrate?
Demais, mesmo, mesmo.
Veijios
Essa clarinha não é aquela dos orgasmos?
ResponderEliminarhttp://apenas24horas.blogspot.com/2010/01/orgasmos-de-clara-pinto-correia-em.html
Já a acusaram de plágio.
"2004
Foi neste ano que Clara Pinto Correia pediu desculpa pelo plágio que fez a dois textos da ‘New Yorker’. A bióloga transcreveu, quase na íntegra, textos da revista americana em crónicas publicadas na ‘Visão’."
Abraço
Des Contente