O analfabeto
Desde que alguém me enviou um email com a performance de Lula da Silva no Brasil fiquei com uma vontade louca de que muito rapidamente haja eleições legislativas.
Não vale a pena falar das passadas presidenciais, em que não votei, uma desgraça inteira. Tanto pelo patético candidato ganhador como pela anarquia que as envolveu. Vota que não vota, onde é que eu voto. É tudo um sinal inequívoco do laxismo dos tempos, quando toda a gente se marimba que o resultado das coisas seja assim ou assado. Não é negligência, nem leve nem grosseira, é mesmo dolo, dolo eventual. E, no meu tempo, o dolo era crime, punido com pena de prisão, em todo e qualquer tipo onde ele estivesse.
Agora não. Se já nem o dolo direto tem a mesma conotação de antigamente, que fará o eventual!
Foi por causa de já ser capaz de prever a amalgama onde andam mergulhados os serviços públicos que eu não fui votar. Embora o meu caso nem sequer fosse dos mais emblemáticos. Tendo mudado de cidade há tempos, é lógico que mudaria de poiso e a urna para receber o meu voto não voltaria a ser aquela que o recebia há uma data de anos, infelizmente.
Infelizmente, digo, porque não gosto de morar nesta terra. Tendo ela, como todas as outras, gente grande e gente pequenina, o meu azar tem sido muito. De facto tenho-me deparado com pessoas muito pequeninas, daquelas de onde só saem deslizes e entorses. Que o diga o meu carteiro subornado, o meu carteiro analfabeto que, talvez por isso, me quebrou o primeiro galho legal, onde há dias tropecei a propósito de um célebre NIPC.
Isso dá ao meu carteiro uma dimensão semelhante à de Lula da Silva, com as devidas proporções. Não podemos comparar o desenvolvimento económico em que um deixou o Brasil com o pequeno serviço que o outro prestou a Portugal e a mim. De comum, mesmo, só a questão do analfabetismo, um analfabetismo eficaz e eficiente, um dos muitos analfabetismos capaz de resolver problemas, ao invés de os criar.
Mirem-se nisto, meninos da geração parva, deixem as escolas, as universidades e transformem-se em analfabetos idênticos a Lula da Silva e ao meu carteiro, se querem que os vossos problemas e os dos outros se resolvam.
Quanto a mim, se nunca fui buscar o canudo à universidade, também não o vou fazer agora porque, definitivamente, quero ser uma grandessíssima analfabeta.
E é por isso que eu anseio pelas próximas legislativas. Desta vez quero votar, embora tenha de o fazer numa terra de que não gosto.
Como e em quem o vou fazer, isso será o método a descobrir a partir de agora.
Possa embora a vaca tossir muito, não votarei num engenheiro. Um engenheiro, se não tiver atrás um grande currículo de obras levadas a cabo, no mínimo tem atrás de si a universidade que eu, desde hoje, passei a abominar e a desaconselhar vivamente. Pior será se a mesma universidade não fechar, nem para férias, nem sequer aos fins-de-semana, mantendo o corpo docente a trabalhar permanentemente e num desgaste psicológico contínuo e incapaz de distinguir uma segunda-feira de um domingo.
Excluídos os engenheiros, os economistas também não me parecem uma boa escolha. Há anos e anos a fazerem reuniões a torto e a direito, debates televisivos em que são os verdadeiros profetas da desgraça sem mexerem uma palha para evitar o apocalipse de que são mensageiros, nos economistas também não recairá a minha escolha. De economistas está o inferno cheio, com um famoso à cabeça que nos levou à desgraça, de onde parece não sairemos tão cedo se não fizermos uma boa escolha. E os actuais economistas também não serão muito melhores, com a agravante de serem uns parvos vestidos, ou de meninos ou de senhores, a maioria deles sem saber o quanto custa um pão na padaria e sem conhecerem todos os outros contornos da sobrevivência. No fundo, no fundo, nunca nenhum deles criou riqueza, andando aqui numa espécie de parasitismo que a universidade legitima. Abaixo, assim, a universidade e os economistas, que vão todos bater à porta do FMI para lhes pagar as batatas a murro no Tavares Rico da capital, onde vão parar todos os que nos desgovernam.
Restam-me quase só os juristas e o que está no meu horizonte também não é luminoso. Sobretudo depois da minha recente incursão no mundo do direito, que hoje já nem Deus sabe escrever por linhas tortas. O direito e os juristas precisavam, em primeiro lugar, de aulas de português, de modo a que a presença ou ausência de uma vírgula não se tornassem coniventes com fraudes de milhões. E se um jurista, além do mais, acumular os canudos de Direito e de Jornalismo, há fortes probabilidades de se ser um charlatão ridículo, incapaz de se ir da lei da morte libertando e de agradar a gente séria.
Não votarei num jurista, ainda que uma vacaria inteira tussa, completamente tuberculosa. Morte a eles, afundem-se com submarinos torpedeiros para não deixarem rasto.
Fazia-me cá falta um Lula da Silva, mas ele, julgo, nesta altura do campeonato, não deve estar disposto a mudar de camisola para deitar a mão a este barco carregado de pés de chumbo e a meter água na mesma proporção. Aliás, julgo mesmo que ninguém cá deste lado do Atlântico lhe concederia a nacionalidade. O ex-presidente do Brasil, apesar da sua boa cotação internacional, nunca deve ter tido muito tempo para se debruçar na ancestral e azulada cor do sangue real que, numa época de crise, abalou para lá. Não deve conhecer muitos dos nossos feitos pátrios e não admira. Desde que se conhece por gente, nunca deve ter podido dedicar-se verdadeiramente à história. Nem à comum aos dois países nem à individual. Sobretudo à do velho cretino da banda de cá, de dia para dia mais idiota e esclerosado. O senhor, como ninguém, sabe quanto custa vergar o fio e domar as chapas de metal, que algumas vezes lhe devem ter cortado as mãos até ao sangue, suor e lágrimas. E como as instituições, cá deste lado, levam a rigor as regras dos conhecimentos na questão da nacionalidade, Lula da Silva seria logo excluído à partida. Necessária, necessária, sob o ponto de vista deles, é mesmo a cultura universitária que, apesar de hoje em dia não servir para nada, tem de constar nas provas de aferição. Conhecer D. Pedro I, o Imperador do Brasil, seria pouco para a vaidade lusitana.
Todavia, nem tudo é negro. Neste mundo de diplomados, ainda vai havendo alguns analfabetos, daqueles que sabem o valor do trabalho e a quem a vida nunca deu nada de mão beijada. Muito menos o estatuto de muitos boys para aí a fazer política, a saltar de tacho em tacho numa imensa caldeirada de enguias feita à moda de Aveiro, com a água do mar onde nos afundamos e com um grandessíssimo pedaço de unto.
Por isso, meus senhores, desde já, aqui e agora, comprometo-me a votar Jerónimo de Sousa, o mais parecido que encontrei com Lula da Silva, o nosso querido Ex-Presidente do Brasil, que foi capaz de conduzia o país ao progresso e impor-nos, inclusivamente, o mais recente acordo ortográfico. E para tanto precisou ele, por acaso, de ter roçado os fundilhos das calças nos bancos das velhas e caducas universidades que nem ao domingo fecham portas?
Votem Jerónimo de Sousa, viva o trabalho, Viva o Wickilikes.
Dou os mesmos vivas: ao Jerónimo, ao trabalho e à Wikileaks.
ResponderEliminarAo Jerónimo porque engoliu a aquilo a que o inimigo chama a “cassete” como se mudá-la ao sabor de ventos e marés fosse uma regra de bons costumes.
Ao trabalho, cujo conceito se afasta cada vez mais daquilo que “pregou” Agostinho da Silva.
À Wikileaks porque representa para os nossos governos o mesmo que representa para mim a alergia aos ácaros.
Aveiro é uma bonita terra, e, como diz, tem gente como nas outras: "pequenina e grande".
Só as desfavoráveis peripécias do quotidiano podem justificar a sua queixa.
"Amanhã é outro dia".
A.M.
Eu não voto Jerónimao. Vou convidá-lo a vir cá a casa, para fazer uns trabalhos de torneiro. Pago bem. Quem sabe se ele não volta ao trabalho? É coisa simples, porque os desenhos da obra foram feitos pelo Sócrates, um maravilha, pois trata-se de engenheiro com larga experiência.
ResponderEliminarFigasAbraço