segunda-feira, 7 de março de 2011

ECONOMIA NUA E CRUA


A esta só lhe restam os anéis e os colares...
Portugal também vai vendendo tudo até ficar sem cheta...

A economia portuguesa qualquer dia está como a da Guiné portuguesa: a viver de mão estendida e sem grandes hipóteses de fugir dessa mendicância que se vai eternizar no tempo...
Claro que nós somos «primeiro mundo», temos tecnologia, ensino mais sofisticado, infraestruturas modernas, acesso a bens de qualidade e serviços de excelência.
Temos? Alguns ainda vão tendo... mas pelo andar da carruagem daqui a uns anitos a porca vai começar a torcer o rabo...e de que maneira!
A questão de fundo é esta: não se trata de mais ou menos Estado, para equilibrar o orçamento e começar a reduzir a dívida soberana. Trata-se de melhorar o Estado, racionalizá-lo, expurgá-lo de sumptuários gastos, de mordomias supérfluas, enfim,  é preciso sanear a alma do Estado!
A corrupção é o caldo de cultura que está na génese da nossa patologia economicofinanceira. As câmaras municipais fazem empreitadas por ajuste direto beneficiando sem margem para dúvidas os agentes económicos que prometem contrapartidas. Para financiar as campanhas e não só... talvez até os proprios candidatos... O governo faz o mesmo, os governos regionais preocupam-se mais na eternização do poder, angariando fundos e compromissos eleitorais, do que  em gastar racional e proficuamente os dinheiros públicos. O primado do eleitoralismo está aí só não vê quem não quer. O poder a qualquer preço, fins justificam meios! Democracia mascarada, abastardada...
Marinho Pinto falou agora nas «comissões ilícitas» dos partidos. Maria José Morgado falou há tempos no maior imposto que neste país se paga: o imposto da corrupção!
Os tribunais são entidades desacreditadas, em que algumas figuras de proa, sabe-se bem, procuram nos partidos o alicerce para a subida ao topo, protegendo aqui e ali os principais dirigentes, não mandando investigar a fundo, protelando decisões, fazendo vista grossa a casos que o comum dos cidadãos sabe e tem a convicção profunda que se fossem devidamente investigados teriam outro desfecho.
A própria PJ queixa-se de asfixia financeira para actuar. Sobretudo os casos mais melindrosos ficam quase sempre em «águas de bacalhau»...
Poucos presidentes de câmara são apeados pela força da justiça. Um já falecido fiscalista dizia à boca cheia que havia magistrados «capturados» pelo poder local. E todos sabemos que é bem verdade. Sente-se no ar um cheiro nauseabundo que só não incomoda os principais protagonistas e os beneficiários deste ambiente hiperpoluído...Eles chamam-lhe perfume...
Dizia o legislador há cerca de vinte anos que as empreitadas acima de vinte mil contos deveriam ser alvo de concurso público. Porquê?
Segundo essa figura, prudente e avisada, profundamente conhecedora da mentalidade reinante, era um valor substancial e poderia dar azo a tentações. Agentes políticos e económicos poderiam fazer cambalachos e lesarem o Estado distribuindo favores entre si.
Agora, esse valor anda próximo dos cinco milhões de euros... a fasquia subiu. Será que a honestidade dos políticos é ultraresistente? Só caem em tentação acima desse valor?!
 A verdade nua e crua é que vemos todos os dias surgirem fortunas do nada, autênticos vigaristas, desde batateiros até sucateiros de meia tigela aparecem envolvidos em negociatas em que o Estado é lesado de forma escandalosa e os beneficiários são eles próprios (e, por arrastamento cúmplice...) aqueles que lhes abrem as portas dos centros de decisão.
Depois há as listas de prendas pelo Natal e os quilómetros e quilómetros de notas que são entregues por baixo da mesa aos traficantes de influências que todos conhecem: «boys e girls» com acesso privilegiado aos detentores do poder...Pagos a peso de oiro: pour cause...
A direita e a esquerda rivalizam nestas estratégias subterrâneas e submarinas...
Surgem como cogumelos os sobreirogates, os submarinogates, os correiogates...
Enfim, o FMI virá aí, estará aí ao próximo virar da esquina.
Vao jurar a pés juntos que tudo fizeram para o evitar, verter lágrimas de crocodilo, mas, na prática, fizeram tudo que justificasse a sua vinda, a sua tutela que ainda mais vai encher de vergonha a pátria mendiga, a roçar a bancarrota. Depois da tutela da UE teremos esta ainda mais gravosa...
Contabilidades criativas, desorçamentações canhestras, sonegaçãos de dados ao órgão fiscalizador (que nada fiscaliza... na prática...), enfim, uma legislorreia sem regras, sem poder coercitivo, que mais é um incentivo ao crime, à corrupção larvar, do que um entrave.
A verdade nua e crua  está aí, conduzir-nos-á a um governo de salvação nacional, com este ou outro nome pomposo, que cortará forte e feio, pagando o justo pelo pecador, tudo fruto da ganância de uns patos bravos arvorados em  governantes  que souberam governar-se (a si e aos seus apaniguados mais directos...) mas deixaram o país de tanga.

rouxinol de Bernardim
Vila do Conde,  2011.03.07

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