Francamente, senhor Presidente!
Pede V. Excelencia para que os portugueses contribuam para melhorar a imagem do país, lá fora. É um pedido legítimo. A imagem do país está pior que o chapéu de um pobre, anda pelas ruas da amargura.
Ocorre-me perguntar: que tem feito V. para melhorar essa imagem?
Sabe por que motivo foi exonerado Santana Lopes no tempo de Jorge Sampaio? Por falta de coordenação governamental!
Pergunto por que é que Jardim, o todo poderoso líder madeirense ainda não foi «despedido»?
Aquilo que tem acontecido lá, tem provocado danos inimagináveis na imagem do país junto dos mercados financeiros e inclusive, junto da própria União Europeia. Sonegar dados importantíssimos, de forma calculista e danosa, é um «crime» de lesa -Pátria, uma ignomínia sem limites. Tal despudor é muito mais gravoso do que as faltas leves apontadas a Santana Lopes. E, em termos de impacto sobre a credibilidade nacional, algo de muito mais pernicioso e preocupante. Que é preciso para exonerar este governante que dá uma péssima imagem do país no exterior?!
A corrupção infrene que contamina o país de norte a sul é a filoxera que vai devorando paulatinamente a vinha democrática. Que tem feito V. Excelência para a erradicar, ou pelo menos, minorar? O combate à dita cuja nunca pareceu uma das suas preocupações pois cinge o seu discurso fundamentalmente ao ataque à falta de produtividade em sentido lato, não esmiuçando as suas causas profundas como um bom pedagogo deveria fazer; Diz apenas que gastamos mais do que produzimos. Enfim, uma banalidade dita vezes sem conta, nunca se preocupando em ir ao cerne do problema: quem é que gasta, quais os segmentos do tecido económicofinanceiro que mais dispendiosos ficam ao Estado. Não, não é o povo que tem vencimentos chorudos ou reformas milionárias ao fim de meia dúzia de anos.
Não é o povo que manda fortunas para os paraísos fiscais, tantas vezes arrancadas ao erário público graças a evasões fiscais escandalosas ou a empreitadas empoladas sabe-se lá como. Não é o povo que faz gastos sumptuários em carros de luxo, em mordomias mais próprias de marajás do que de governantes de um país de rastos, onde uma disciplina espartaa deveria ser um exemplo vindo de cima para servir de padrão ao resto dos agentes políticos.
Que tem feito o senhor para denunciar o laxismo de certas entidades de supervisão que fecham os olhos e fazem ouvidos de mercador aos esbulhos sacrílegos e obscenos, dando azo a depauperamento galopante do erário público e, à contrario, ao enriquecimento desmesurado de alguns traficantes de influências que, sem um resquício de pudor lavam esses ganhos avultados nos mais variegados domínios?
Que tem feito o senhor para denunciar a estrutura neoliberal que subjaz à arquitetura economicofinanceira de uma União Europeia que se está a transformar num império carregado de injustiças, onde os países ficam sob a dependência de uma banca agiota e especulativa?
Diz com demasiada frequência que não somos a Grécia. Mas deveria dizer pelo contrário que estamos a ficar muito próximos da Grécia (é uma questão de tempo, pode crer, se tiver o bom senso de analisar friamente o galopar da nossa dívida soberana) e que não é com austeridade, tout court, que sairemos deste atoleiro medonho em que mergulhamos.
Caminhamos rumo ao abismo, a uma velocidade acelerada, e só uma recalendarização da dívida e/ou um perdão parcial poderão fazer inverter esta marcha inexorável.
Ninguém se iluda. Há culpas endógenas óbvias, mas também há causas exógenas, essas são fruto da configuração neoliberal da macroestrutura europeia, que ninguém denuncia, ninguém ousa pôr em causa. Pobres de espírito...
Melhorar a imagem de Portugal é preciso, mas o exemplo de austeridade, de viver espartano, de comedimento nos gastos, tem de vir de cima. A mulher de César, além de ser honrada e séria deve também parecê-lo. Admito-o sem rebuço , posso estar enganado, mas julgo não errar ao dizer que assim não é, pelo exemplo péssimo que vem dos governantes, dos governos regionais (sobretudo do da Madeira) e de algumas autarquias que parecem nadar no mar da prosperidade à custa dos sacrifícios de todos os portugueses.
rouxinol de Bernardim
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