Cavalo e funcionário público...

O fisco é implacável, em tempos de crise até sémne de cavalo serve para pagar impostos...

SUGADO PELO FISCO

O país a soçobrar

era preciso arranjar

grana, dizia o gaspar;

lá se pôs a magicar

o défice sempre a aumentar

e tanta gente a roubar

era preciso saír

da queda para o abismo

gerando só pessimismo

galopante despesismo

era preciso agir!

Era preciso sacar

a quem estivesse a lucrar

e a única salvação

era o Estado ser ladrão

pela pátria roubar

até os cofres encher

claro que iria doer

o povo tão castigado

ficaria revoltado

mas era força maior

bancarrota era pior

enfim, era uma emergência

senão... seria a falência!

O fisco, esse pau mandado,

foi bater de porta em porta

rico ou pobre não importa

todo o mundo foi roubado

até o ti Zé Campelo

também teve o fisco à perna

co'a sua humilde taberna

lá pagou couro e cabelo.

Mas há sempre um resistente

alguém com pelo na venta

foi o ti Manel Setenta

fez um manguito ao agente.

Ele tinha um garanhão

que lhe dava bom proveito

cobria éguas a eito

e cobrava um dinheirão,

um regalo a facturar

égua por ele montada

ficava logo emptrenhada

era raro ele falhar

e o fisco nem hesitou

se dava grana a ganhar

havia que o tributar

mas o dono não gostou

falou alto e sem temer:

«ao fisco não vou pagar

o bicho podem levar

'inda mo vão devolver!»

Nos seus novos aposentos

o garanhão instalado

não exibia os talentos

que o tornaram afamado.

que coisa tão deprimente

o garanhão impotente

sem despertar atenção

numa total inação

e as éguas tão expectantes

formosas, insinuantes,

aguardando docemente

a penetração da semente...

Mas que grande frustração

qual a maldita razão

para tal comportamento?

Estava sem motivação

seria a alimentação?

Era urgente o tratramento!

O veterinário veio

e depois de o auscultar

com cuidado e vagar

disse sem qualquer rodeio:

«Não é da cavalariça,

ele foi contaminado

tem o vírus da preguiça:

é funcionário do Estado!!!»

Joteme