quarta-feira, 29 de junho de 2011

O filme não sai do cartaz enquanto se esgotarem as lotações

Sangue. Muito sangue.
De preferência empoçado.
Uma perna partida.
De preferência com factura exposta.
Um filho que bateu na mãe.
A mãe que deitou arsénico na sopa do pai.
Tiros, muitos tiros.
Rajadas de preferência.
Um incêndio nas águas-furtadas.
Queimaduras do 3º grau, se possível.
Um suicídio com pré-aviso era o ideal.
Transmissão em directo. O corpo a cair lá do 14º andar.
A fazer poff na calçada.
Ah! Ah! E um feto no caixote do lixo?
Se ao menos houvesse um terramotozinho.
As ruas cheias do entulho das casas.
Uma mão com os dedos encrespados.
Ensanguentados, claro. Saindo do meio dos destroços.
Isso é que era bom!
Mas não temos essa sorte!
E então uma guerra a sério?
Com os mortos estendidos na valeta.
Ou todos alinhadinhos num campo qualquer.
Amortalhados.
- O meu filho bateu-me.
- Até me chamou vaca e puta.
Uma lágrima furtiva.
Um ar consternado do entrevistador.
Enquanto mira o monitor da audiência.
Ena pá, tá no pico!

Entretanto,
6ª Estratégia de manipulação mediática, de Noam Chomsky:
"Utilizar muito mais o aspecto emocional do que a reflexão. Fazer uso do aspecto emocional é uma técnica clássica para causar um curto-circuito na análise racional e finalmente o sentido crítico dos indivíduos. Por outro lado a utilização do registo emocional permite abrir a porta de acesso ao inconsciente para implantar ou injectar ideias, desejos, medos e temores, compulsões ou induzir comportamentos."
Assim, ficamos sem saber se a intenção é aumentar as facturas da publicidade ou prestar um serviço ao poder instituído.
Pois. Deve ser as duas coisas.
Junta-se o útil ao agradável.
A.M.

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