sexta-feira, 20 de julho de 2012

D. Odete

Já comecei a treinar. Quero estar devidamente preparado em janeiro quando entrar em vigor a
lei que vai obrigar à emissão de faturas por todos os artigos comprados. Sou um legalista e não vou dececionar os meus superiores, que com tanto empenho e
inteligência se esforçam para nos conduzir ao estado de divergência com os demais países desta desunião europeia.
Assim, logo de manhã fui ao café do Jorge. Bebi a minha bica e comprei o meu jornal.
- Jorge, passa para cá uma fatura, do café e do jornal, tá?
- Já contratei duas “fatureiras”, mas só começam a trabalhar para a semana. Como vê, só tenho dois braços e está o café cheio à espera de ser servido.
- Ok, estou só a treinar. Faço a minha obrigação.
Como hoje estão 101 milhões de euros à minha espera, pensei que era melhor ir ao seu encontro e passei pela tabacaria da esquina para entregar o meu palpite com os número que sonhei esta noite.
A menina Amélia fez o registo e devolveu o boletim com a respetiva fatura.
Aqui não é preciso pedi-la – pensei.
Mas será que serve para deduzir no IRS? – interroguei-me.
Já ia a caminho de casa quando me lembrei que a minha mulher me tinha pedido para comprar fruta e voltei para trás. Normalmente compro-a, (entre outras coisas),
nas grandes superfícies, mas resolvi ir ao mercado que fica muito mais perto.

Peguei nos sacos de plástico que estão ali sempre à mão e escolhi meia dúzia de pêssegos amarelos, outra meia dúzia daqueles de roer, três nectarinas e três nabos. Pedi à D. Odete – sempre simpática – que me pesasse também 250 gramas de azeitonas.
À medida que ia pesando a fruta ia apontando com um lápis de bico rombo os diversos preços num pequeno papelinho rasgado de uma folha de papel pardo. Somou depois as parcelas.
- São 4 euros e 35 cêntimos – informou.
Dei-lhe uma nota de 5 e enquanto fazia o troco, atirei maldosamente:
- Então, D. Odete, já sabe das faturas?
- Nem me fale disso! Eu nem tenho máquina!
Durindana


    

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