sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Boas contas faz o preto

Boas contas faz o preto
Era um óptimo empresário. Como  Midas,  em tudo que tocava dava milhões de lucro. Característica que se reflectia  na produtividade  familiar. Tinha contribuído com cinco filhos para a riqueza da nação.
“Fino como o alho”, as empresas sucediam-se, subordinadas ao seu lema  de “Tempo é dinheiro” !
Muito disciplinado, ocupado em reuniões e em viagens, pouco tempo sobrava para conviver com os filhos, que ficavam ao cuidado da mãe, que os tratava com amor e carinho, porém , chegados à idade escolar eram “despachados” para os melhores colégios internos e,  após o secundário, devido às boas notas (tinham a quem sair) iam para as melhores Universidades da Europa. Apesar, do pragmatismo da melhor da melhor educação para os filhos, a mãe cada vez mais sentia-se só, vendo no marido um ausente quase permanente, devido aos negócios. Os filhos, esses, só vinham casa nas férias grandes ou intercalares. Os anos foram passando. Os filhos formados. Os pais, estavam mais velhos e alquebrados, até que chegou a altura do nosso empresário entregar a gestão das empresas aos filhos, mantendo a titularidade das mesmas, recomendado sempre o: “TEMPO É DINHEIRO”.
Com o desgosto da morte súbita de sua mulher, o empresário sofreu grandes depressões, ficando, com comportamentos bipolares, até que uma queda o levou a uma cadeira de rodas numas das muitas visitas ao túmulo da mulher,  onde ia muitas vezes, e no regresso, antes de sair do cemitério, gostava de conversar com o coveiro, que providenciava os arranjos florais no túmulo da família! Rodeado de empregadas e empregados, que lhe davam toda a assistência necessária, ia passando os dias, em sua casa, o melhor possível, atento aos relatórios apresentados pelos filhos sobre as empresas e ao sobe e desce das suas acções, mas as visitas, que recebia, eram só sobre negócios, porque não havia tempo a perder (lema que foi bem adotado pelos filhos) com a manutenção ou incremento dos afectos para com o pai. Um dos filhos, até sugeriu que a apresentação dos relatórios fosse por vídeo- conferência. Que não, dizia o velho, sentindo-se muito solitário,  dizia "que não havia nada melhor que o contacto pessoal e olhar de frente, olhos nos olhos." Todavia, ia-se apercebendo  do incremento da indiferença afectiva dos filhos para com ele, sem falar nas noras, que raramente o visitavam com os netos, porque o achavam muito “chatinho”!
Em cada visita que recebia, tentava falar sobre outros aspectos váriso da vida; sobre os netos, por exemplo, que raramente via, mas, quase sempre ouvia a frase “-Ó pai, tenho que embora e, como o pai diz tempo é dinheiro. Espera-me uma importante reunião para um negócio importante”. “Está bem meu filho Tu é que sabes ”, respondia o pai, já com mais de 90 anos! Aos seus ouvidos iam-lhe chegando rumores de progressivas desavenças entre os seus descendentes, porque vendo a fortuna que iriam herdar, já andavam a armadilhar esquemas para, cada um ficar com o melhor naco do património disponível. Uma das vezes, aquando duma visita do filho mais velho, notou que ele estava um pouco alterado.
-“Que foi?”, perguntou.
 -“Nada, nada. Já passou” 
Certo é que tivera uma discussão com o irmão mais novo. Nada foi mais preciso, para o empresário juntar dois mais dois e chegar à conclusão de que após sua morte as coisas iriam azedar e todos iriam ficara zangados. Resolveu arcar com todas as responsabilidades, chamar o Notário para fazer o seu seu testamento, mas com cláusulas especiais.
 O Notário, habituado às mais estranhas disposições testamentárias, não estranhou que o testamento tivesse que ser lido em duas partes temporais distintas.
Se alguma dúvida tinha, ainda antes de fazer o testamento, o velho empresário ficou esclarecido, pois que, através dos empregados, que tinha à sua volta, sabia que os filhos achavam que o pai estava cada vez mais xé xé e faziam grande esforço para o aturar nas visitas.
Finalmente, aos 95 anos partiu para os grandes negócios no Além, deixando os de Aquém aos cuidados dos filhos, que chamados pelo Notário, para a audição do testamento, tomaram conhecimento de que um envelope seria entregue ao coveiro do cemitério, onde estava o jazigo de família e que ninguém seria deserdado, mas só passados 60 dias é que teriam conhecimento da parte do património a cada um atribuído!

Intrigados, lá comparecerem ao sexagésimo primeiro dia, perante o Notário, para saber, finalmente, das disposições finais. Ficaram surpreendidos ao serem convidados a entrar numa sala, onde um vídeo iria ser projetado. Não mais que um filme, feito pelo coveiro, que registou todas as idas dos filhos ao cemitério, para visitar as campas dos pais.
O filme abria com a legenda “TEMPO É DINHEIRO” .
O coveiro, conforme as instruções recebidas, mediante uma câmara oculta, tinha feito a cobertura imagética de todas as visitas dos filhos durante os sessenta dias!
Finalmente, preparados para ouvirem as quotas da fortuna a cada um atribuído, ficaram a saber que quem mais visitas fez  aos pais e quem mais tempo esteve no cemitério, nesse período, ficariam com quarenta por cento da fortuna total a cada um, sendo os restantes vinte por cento divididos pelos outros três filho. Fiz este testamento, com esta cláusula especial, só para demonstrar, na prática, que “TEMPO É DINHEIRO”. Ganhou quem mais tempo investiu em nós”.
Autor: Silvino Taveira Machado Figueiredo--Gondomar
(testemunha testamentário)
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Autor: Silvino Taveira Machado Figueiredo
Gondomar

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